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Em seu blog, Zeca Camargo fala sobre sua passagem na MTV, na época em que trabalhou por lá e quando foi demitido.
Ele fez uma listinha de seus cinco momentos favoritos em uma entrevista que concedeu ao Cazé, para o "Notícias MTV":
1) Cobertura do Rock in Rio 2 – já falei sobre esse evento aqui mesmo no blog, por isso serei ainda mais breve. Se já trabalhávamos 18 horas por dia naquele começo de MTV, o sono então foi dispensado por completo durante aquela enlouquecida cobertura de nove dias. Entrevistas às 4h da manhã, reunião de produção às 8h, saltos de asa delta com bandas e horas sob o sol esperando uma frase de uma mega artista – e muito mais… Mas quem disse que eu estou reclamando?
2) Entrevista com Michael Stipe, VMA de 1991 – o VMB não era sequer um sonho. Assim, o ponto alto da nossa cobertura jornalística era esperar para falar com todos os artistas na premiação da MTV americana. Com quase um ano no ar, eu já deveria estar acostumado ao contato com celebridades, mas aí eu encontrei um dos meus maiores ídolos e… foi um desastre. Aliás, instrutivo. Eu estava conversando com Stipe, o líder do R.E.M. – na época, “bombando” com o disco “Out of time” (que, entre outros sucessos, trazia “Losing my religion”), quando literalmente “viajei”. Como conto no meu livro “De a-ha a U2″, comecei a pensar em outras coisas… Desencanei da entrevista enquanto Stipe dava uma resposta longa, e dizia a mim mesmo: “Nossa, não acredito que estou entrevistando esse cara…”. Ele, óbvio, percebeu – e encerrou a entrevista ali na hora. A grande lição? Primeiro o trabalho, depois a tietagem… Anos depois, no Rock in Rio 3, quando tive a oportunidade de estar com a banda de novo, contei essa história a Michael Stipe – que, como eu esperava, não se lembrava do incidente, mas disse que era bem possível que ele tivesse feito isso…
3) Chegada do clipe de “Black or white”, de Michael Jackson, novembro de 1991 – difícil alguém imaginar hoje que o lançamento de um videoclipe pudesse estar envolto em tanto mistério… Pois este estava. Michael Jackson, em 1991 – “tá ligado”? Estávamos todos reunidos na sala do jornalismo, produtores, diretores e VJs, para assistir à fita que havia acabado de chegar dos Estados Unidos – ultra confidencial! Um silêncio absurdo até aquele início com Macaulay Culkin – e depois um festival de comentários espontâneos. Ali, reunidos diante de uma mesma inspiração, uma garotada que vibrava com música, sintonizada na mesma expectativa. Revimos o clipe umas dez vezes seguidas – e eu só ficava pensando: “esse é o lugar mais legal do mundo onde eu poderia estar trabalhando”… “One nation under a groove” – eu divagava (está vendo… não é de hoje…).
4) Entrevista com Kurt Cobain, Hollywood Rock, 1993 – também contada em detalhes no meu já citado livro, não foi um evento simples. Essa mesma entrevista que você pode ver hoje no youtube, aconteceu de madrugada, várias horas depois do previsto, no Rio de Janeiro, depois de a gente ter chegado lá, esperado ele terminar uma sessão no estúdio com a banda de sua hoje viúva (Hole), esperado ele cochilar (“Kurt está dormindo”, nos vociferava Courtney Love, “e ninguém fala com ele enquanto Kurt não acordar, ninguém acorda Kurt!”), esperado ele acordar, e esperado ele se compor… Depois de tudo isso, porém, eu tive diante de mim o artista mais doce e genial que eu jamais entrevistei.
5) Entrevista com Renato Russo, 1993 – mais um capítulo do livro (e isso não é um esforço de “merchan”, juro!). Passamos um dia na casa do Renato – que começou com ele nos recebendo no seu quarto, embaixo de lençóis, dizendo que nós tínhamos errado o dia do encontro e que ele queria dormir… Uma brincadeira dele, claro, que em seguida levantou-se já vestido da cama e deu o depoimento mais transparente que eu já testemunhei de um artista. Revendo o programa – coisa que não fiz quando escrevi “De a-ha a U2″, de propósito -, fiquei ainda mais encantado com a honestidade e a candura de Renato. Um raro momento para me orgulhar – e não ter vergonha de declarar esse orgulho. Ídolo não é ídolo à toa… e ali estava o atestado de Renato Russo de que ele veio para inspirar não só a minha, como muitas gerações.
http://g1.globo.com/platb/zecacamarg.../fale-memoria/