Todo mundo quer ser famoso. Famoso no Twitter, no Facebook, no quarteirão onde mora, no clube que frequenta, na cidade, estado, país ou planeta.
Algumas pessoas são ou já foram, de fato, famosas mundialmente, por diferentes motivos, em diferentes períodos da história. Pelé, Obama, Michael Jackson, Beatles, Beethoven. Da Vinci. Napoleão. Hitler. Gandhi. César. Elvis. Chaplin. Einstein. Freud. Colombo. Galileu. Nero. Jesus. Nem dá pra listar.
Boa parte das pessoas mundial e eternamente famosas fizeram alguma coisa, boa ou má, produziram uma obra, tiveram uma ideia, resolveram um problema, descobriram ou inventaram alguma coisa. Ou cometerem um crime hediondo. Enfim, são muitos os caminhos que levam alguém a ficar conhecido por todos os seres humanos de forma duradoura.
Entre o anonimato total e a fama universal existe uma imensa camada de possibilidades de alcance, intensidade ou duração da fama.
O fato é que todo mundo tem uma ideia de que ser famoso é como ter dons sobrenaturais que cortam caminhos, abrem portas e conquistam pessoas. Em muitos casos é isso mesmo. Ser famoso, do tipo que sai na rua e é reconhecido pelos populares é mesmo um superpoder. Como diz o Guerreiro, quando você é famoso todo mundo que o reconhece sorri pra você. Ser amado por multidões deve ser mesmo muito intenso.
Ser famoso, porém, não é necessariamente a solução eterna e geral para todas as questões da vida. Ao contrário. Essa sobrecarga de responsabilidade, essa legião de fãs e suas cobranças, os holofotes constantes da mídia, a adrenalina gerada pela notoriedade, já levaram muita gente à loucura, falência ou morte prematura. Nem todo mundo está preparado para abrir mão da 'normalidade' em nome de uma carreira de fama. E mais: a fama nem sempre traz fortuna, nem no sentido de dinheiro e nem em seu sentido original de boa sorte, bom destino.
A história está aí pra provar que muita gente que já foi famosa durante um tempo, em algum lugar, acabou pobre e esquecida, tentando viver dos dias gloriosos que o tempo engole. São raros os que conseguem ser famosos a vida toda como Roberto Carlos, Silvio Santos, aqui no Brasil, só pra citar alguns que mantiveram a prosperidade.
Sim, a fama é divertida, engraçada, suponho. As pessoas sempre lembram com carinho ou alegria de ídolos famosos da cultura pop, desde o Vigilante Rodoviário, Chaves, Chacrinha, até figuras como a tia da Iogurteira Top Therm, o cara da TekPix. E tem todos os atletas, pilotos de F1, enfim, um panteão de deuses e semideuses da nossa cultura contemporânea.
E tem a fama passageira, mas legítima, aquela que parece possível a todos e que tantos buscam a qualquer preço na Internet, que vem como um susto, um pico de sorte, um pulso. É o caso de todos os personagens de memes e virais, como a Sônia do YouTube, Luiza Marilac, Luiza do Canadá, o gordinho do Numa Numaê, os meninos do Charlie Bit My Finger, et cetera e tal. Ou o sucesso dos humoristas de blogs e perfis de twitter, vlogueiros do YouTube, que vão parar em algum quadro ou programa de televisão. Tudo isso é realmente possível, uma fama midiática alcançável. Taí o mercado de integrantes de reality shows da TV que prova que é possível ser lembrado mesmo depois de anos da participação.
Mas essa fama dá dinheiro?
Não.
Não o dinheiro que garante a boa vida da pessoa e três gerações de descendentes.
Não tem fama da Internet que catapulte a pessoa, direto da classe média brasileira para a lista dos 100 mais ricos do mundo da Forbes.
Eike Batista não ficou rico porque era famoso em redes sociais. Ou nas colunas sociais.
O caminho da fortuna é outro.
Sim, tem gente que apenas ganha na loteria. É um caminho. Se você quiser tentar não se esqueça de fazer a aposta.
E tem também os picos de sucesso instantâneo que rendem milhões em algumas indústrias. Como a indústria do livro, por exemplo. Tem gente que escreve um livro e ganha quaquilhões, como essa tiazona dos 50 tons de cinza. Já a famosa e rica, mundialmente, J.K. Rowling tem trabalhado MUITO para produzir uma OBRA. Ela não é apenas famosa, ela criou todo um mundo, uma mística, um universo do Harry Potter. Não é pouca coisa, ou pouco trabalho.
Essa fama que muita gente quer é só uma ilusão. É só uma vontade de experimentar os privilégios do sucesso. Uma versão beta, trial, parecida com o conto de fadas da Cinderela. A pessoa quer ficar famosa pra ganhar permuta e ser amada, ter fãs gritando seu nome, ganhar a melhor mesa no restaurante, receber o carro do manobrista na frente dos outros, viajar de executiva. Esse desejo da fama preguiçosa, que tem sempre alguém fazendo as coisas por você, é a ilusão que compramos da TV, das revistas, do Cinema, dos sites. É aquela imagem da estrela com vinte pessoas ao seu redor, fazendo o pé, a mão, o cabelo, a maquiagem, a massagem, o figurino. Abrindo a porta, fazendo comida, dirigindo o carro. É o sonho de ser mimada e não fazer nada, apenas ser atendida em todos os desejos. É muito parecido com aquela postura do reizinho narcísico, despótico e mimado, que manda em tudo e todos, que impõe suas vontades e tem todos os seus desejos prontamente atendidos. Sem questionamento.
Isso é bobagem. É sonho de poder voar. Não acontece de verdade na vida real. Ou, se acontece, dura um tempo e depois passa. Porque ninguém gosta de apenas servir ao outro sem ser servido. Ou de ouvir sem poder falar. Ou de aplaudir sem poder dar show. Um dia o porteiro conta seus podres, o motorista publica um livro falando mal de você, o contador faz ameaças, o advogado vira casaca. Ninguém, acredite, quer ser escravo de ninguém para sempre. E ser famoso e rico e mandar “full time” exige isso, quase que uma condição de gente escravizada que atende suas solicitações.
Eu acho que esse modelo de mundo acabou. E tem que acabar mesmo.
Para que o mundo seja mais democrático, igualitário, justo e para que as pessoas se mantenham minimamente humanas, é preciso fazer coisas, vivenciar limites, transpor obstáculos. É preciso escovar os próprios dentes, tomar o próprio banho, fazer sua comida sempre ou de vez em quando. Lavar as próprias calcinhas, pelo menos. Cortar as próprias unhas, fazer um trabalho manual. Ler e escrever coisas. Produzir um pouquinho de arte. Plantar, cuidar de um animal, amar o próximo. É preciso dar, dividir, compartilhar. Coisas, afetos, conhecimento.
Esse sucesso artificial que buscamos, essa beleza plástica que compramos, é só paliativo aparente. É diploma sem estudo. É medalha por W.O. É prêmio sem competição. Não ensina. Esse monte de lipos que não reeducam o apetite descabido não soluciona o problema em sua origem. Só mascara. É tudo fantasia que veste a nudez, maquiagem que recobre os poros irregulares, tinta que cobre o grisalho do tempo. Não é evolução, crescimento.
Sim, você pode ser rico e famoso um dia, por que não? Muita gente consegue e nada impede que você seja uma delas. Mas, olha, nada disso é garantia de sossego. Ou felicidade. Ou satisfação.
Se você quer ser uma pessoa feliz, plena, realizada, comece buscando a si mesmo. Descobrindo quem você é, a sua essência, os seus valores. Tente melhorar. Tente progredir. Não busque ser melhor do que os outros, mas ser sempre melhor que você mesmo. Ser o seu melhor 'eu'.
E pare de querer ser famoso. Tentar chamar a atenção a qualquer preço. Pela raiva, pelo ódio, pela agressividade. Isso já acontece com muita gente na Internet e essas pessoas não formam um conjunto de famosos, mas uma legião de zumbis desesperados.
Seja o que você é. Faça o melhor que você puder. Forme uma rede de pessoas com as quais você se identifica. E siga em frente em boa companhia.
Você pode não chegar ao sucesso e à fama, mas terá vivido a vida com amor e alegria.
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