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Se vocês precisarem de sinônimos para as palavras – talento, carisma e genialidade não procurem um dicionário. Apenas digam um nome: Michael Jackson
 
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 Holofotes por um dia

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MensagemAssunto: Holofotes por um dia   Holofotes por um dia EmptySáb Nov 14, 2009 5:57 am

Holofotes por um dia
02/07/2004 - Marcelo Monteiro
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Holofotes por um dia Memo_michael_jackson_01_tra
Clipe de Michael Jackson parou o Santa Marta
Colaborou: Márcio Rezende Jr.
Mestre da Pop Art, Andy Warhol dizia que no futuro todo mundo teria direito a 15 minutos de fama. Em tempos de celebridades efêmeras, pode-se dizer que o artista plástico americano acertou em cheio na sua previsão. Só errou na dose. No caso da Favela Santa Marta, em Botafogo, não foram apenas 15 minutos – e sim 12 horas de holofotes ligados e todas as atenções da cidade (por que não dizer do mundo) voltadas para o cotidiano da comunidade. Isso tudo com direito a Spike Lee na câmera e Michael Jackson em pessoa fazendo coreografias sobre uma laje com vista panorâmica para toda Zona Sul do Rio.

O evento que ficaria marcado para sempre na história do morro – para o bem e para o mal – aconteceu no domingo 11 de fevereiro de 1996. Quando a notícia começou a circular na favela, os moradores desconfiaram. Pensaram que era trote, boato. Que nada, estava mais do que confirmado: os becos e barracos do Santa Marta serviriam como cenário para o novo clipe do cantor americano, não por acaso chamado They don´t care about us (“Eles não ligam para nós”).
“O pessoal achou que era ‘pegadinha’. Só acreditou quando a TV começou a anunciar. Aí bateu aquela ansiedade, foi uma correria. Todo mundo só falava nisso no morro”, lembra José Luís de Oliveira, de 38 anos, na época presidente da associação de moradores. “A favela teve os seus quinze minutos de fama. Na verdade um pouco mais porque foram doze horas de gravação direto”, brinca.
“Não podíamos fazer feio senão a imagem do Santa Marta ficaria manchada. No fim acho que os produtores souberam aproveitar o que a favela tem de mais bonito: as crianças e a vista”, afirma Moacir Joaquim Neto, de 64 anos, que morava numa casa na subida da favela e acompanhou da varanda de casa a movimentação intensa de sobe e desce de equipamentos.
Fora o clipe, a visita do astro foi registrada num vídeo produzido por moradores da própria favela. Exibido na TV comunitária do Santa Marta, “O mega-star Michael Jackson” ainda é inédito no asfalto, mas teve imagens vendidas para uma TV alemã.

Os verdadeiros donos
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Santa Marta: locação privilegiada

A Favela Santa Marta foi escolhida numa seleção que incluiu outras oito comunidades da Zona Sul carioca, entre elas a Rocinha, que até o final era considerada favorita. A preferência do diretor Spike Lee era por morros que tivessem vistas privilegiadas do Rio e que representassem bem os contrastes sociais da cidade. Localizada aos pés do Cristo Redentor e de frente para os prédios luxuosos de Botafogo e Lagoa, a Santa Marta ainda tinha a seu favor o fato de ficar próxima da Skylight, produtora carioca que serviu de base para a equipe de Spike Lee no Rio e responsável pelos primeiros contatos com a associação de moradores.

“Quando vazou a notícia de que eles estavam negociando com a associação, o governo não aceitou. Daí em diante foi uma polêmica atrás da outra”, lembra José Luís.

Mas o pior ainda estava por vir. E bota pior nisso. Segundo os jornais cariocas, Spike Lee teria pedido permissão "aos verdadeiros donos do morro" para filmar na favela. A notícia caiu como uma bomba na Secretaria de Segurança. “Se ele fez isso foi otário. Basta pedir que a gente garante segurança de graça em qualquer lugar da cidade”, disse na época o secretário Hélio Luz.

Nesse meio tempo, o então secretário estadual de Comércio e Turismo, Ronaldo César Coelho, e o ministro dos Esportes, Édson Arantes do Nascimento, Pelé, quase cancelaram o evento alegando que a exposição da favela no exterior poderia denegrir a imagem do Rio e do país. Depois voltaram atrás. “O governo queria é lucrar com a história, como sempre fazem aliás. Por isso deu essa polêmica toda”, afirma José Luís.

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Filmagem marcada por negociações com a imprensa, o governo e "donos do morro"

No dia anterior à gravação, outra notícia irritou ainda mais os governantes cariocas. Segundo os principais jornais da cidade, Spike Lee teria realmente pago uma quantia não revelada ao tráfico para ter sua segurança garantida na favela.

“Para completar toda essa polêmica, depois ainda teve aquela entrevista com o Marcinho VP (chefe do tráfico na época) que saiu publicada no dia da filmagem Aí sim eles ficaram furiosos”, lembra Gilson Cardoso, de 55 anos, agente social da Fundação Bento Rubião.

A tal entrevista foi feita por três repórteres infiltrados na favela – apesar da presença de jornalistas ter sido terminantemente proibida pelos produtores – dois dias antes da filmagem. A matéria bombástica, que revelava detalhes sobre o funcionamento do tráfico no morro, só foi possível após uma longa negociação entre Marcinho VP e os repórteres do Jornal do Brasil, O Globo e O Dia. O traficante só concordou em falar depois que os jornalistas prometeram que seu nome não seria revelado. Coincidência ou não, todos os jornais daquele domingo 11 de fevereiro publicaram a entrevista com nome e foto do traficante, além de versões diferentes para algumas respostas polêmicas.
Anos depois, Marcelo Moreira, Silvio Barsetti e Nelito Fernandes disseram que foram pressionados por seus editores na época a não cumprir o trato feito com o traficante, mas admitiram que poderiam ter agido de outra forma. A história foi contada em detalhes no livro “Abusado, o dono do morro”, do atual correspondente da Rede Globo em Londres, Caco Barcellos.

Lajes lotadas
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Moradores do morro participaram do esquema de segurança para receber o cantor

Enquanto a polêmica movimentava as redações cariocas e rendia matérias de primeira página nos jornais, os moradores do Santa Marta suavam a camisa para não fazer feio no dia da filmagem. Coube à associação de moradores a tarefa de recrutar as pessoas que fariam a segurança do astro.

“Nossa responsabilidade foi basicamente preparar o esquema de segurança, ajudar a carregar os equipamentos, arrumar o camarim e dar opções para o local da filmagem”, lembra José Luís.
Gilson Cardoso dá mais detalhes: "Lembro que na equipe tinha pintor, marceneiro, eletricista, até crianças ajudaram correndo pela favela para passar mensagens para o pessoal da produção. Teve também um grupo só de gente forte, esses aí pegaram no pesado de verdade! Carregar aquele montão de equipamento pela favela foi dureza”.

Contornados os problemas de infra-estrutura e logística – mas ainda com o clima tenso devido à série de matérias publicadas na imprensa –, a filmagem foi confirmada para as 9h. E Michael Jackson foi pontual.

“Ele chegou de helicóptero e foi direto para a laje do ambulatório (posto de saúde na favela). Lembro que os moradores ficaram olhando de longe, muita gente nas janelas, lajes, todo mundo dançando, gritando. Apesar dos problemas, foi um dia inesquecível”, admite José Luís.

Branco de verdade
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Pouca gente se aproximou do local das filmagens, comandadas por Spike Lee

Durante as filmagens, Michael Jackson praticamente não saiu do ambulatório. No máximo descia até o camarim, montado num barraco próximo. Nada de andar pela comunidade. “O Spike Lee é que ficava de um lado para o outro sem parar. Ele olhava, olhava... e de repente gritava ´ok`. Ele registrou a favela de vários ângulos, com as mais diferentes pessoas e paisagens possíveis”, lembra Gilson Cardoso.

Apesar de toda a gritaria e confusão, o esquema de segurança montado pela associação de moradores funcionou sem maiores problemas. Poucas pessoas conseguiram se aproximar de Michael Jackson. O administrador Luís Paulo de Assis, de 35 anos, foi uma delas.

“Entrei no camarim porque estava ajudando uma menina paralítica que tinha conseguido autorização para ver o Michael. Fiquei surpreso porque ele foi super simpático. E mais ainda porque o cara é branco mesmo!”, brinca Luís Paulo, que no dia juntou cinco amigos da favela e montou uma pequena equipe de gravação para registrar a passagem do cantor pela comunidade.

“Espalhamos seis câmeras pelo morro e fizemos imagens de todos os ângulos possíveis”. O resultado é o vídeo “O mega-star Michael Jackson”. “Depois consegui vender algumas imagens, inclusive para uma TV da Alemanha. Isso porque ninguém tinha permissão para gravar, só os moradores mesmo. Volta e meia ainda aparece um fã querendo comprar a fita”, diz.

Caindo na real
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Cercada de polêmica, a passagem de Jackson ficou na história do morro

Terminada a filmagem, o governador Marcelo Alencar, inconformado com a entrevista de Marcinho VP, ordenou que a polícia cercasse a favela imediatamente e prendesse a qualquer custo o traficante. Dez dias depois a ordem seria cumprida.

“A polícia não se conformou com as coisas que saíram no jornal e foi atrás dele. Depois dos holofotes, caímos na real novamente e a favela ficou cercada. Tenho boa e más lembranças dessa história do clipe. Para os moradores foi sensacional, um dia que eles nunca vão esquecer. Mas depois teve todo esse problema com o Marcinho VP, a polícia, e agora ainda por cima esse livro do Caco Barcellos”, lamenta José Luís, que teve seu nome citado na publicação
sem autorização e promete entrar na justiça contra o jornalista. “O que aconteceu é que toda essa polêmica acabou virando mais importante do que o próprio clipe”, resume.

Quase dez anos depois daquele domingo histórico na vida dos moradores do Santa Marta, a realidade na favela permanece praticamente inalterada. “Pena que a história do clipe não tenha gerado frutos para a comunidade. Ficamos um pouco mais conhecidos no asfalto e nada mais. Nem Favela-Bairro a gente tem aqui. Só agora é que está chegando. É muita falta de consideração. Eles realmente ‘não ligam para nós’”, finaliza Moacir Neto.
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