Pelo mundo todo as notícias que mais pululam em portais, blogs, twitters e outros meios de comunicação sobre o documentário This Is It - que traz imagens dos ensaios daqueles que seriam os últimos shows de Michael Jackson (1958-2009) - destacam principalmente a polêmica em torno da real condição de saúde do astro, morto no dia 25 de junho após overdose de medicamentos. Fãs levantam a lebre sobre o fato de o filme esconder que MJ estava cansado, sobrecarregado pela estafante agenda imposta pelos produtores dos shows e muito doente.
Não é isso que se vê ou se percebe quando se assiste ao filme. Ele canta (pelo menos parece cantar, aos olhos de uma legião de leigos), dança (isso não tem como maquiar com playback, ele dança - e como! - mesmo. Dança e dá palpites em todas as coreografias, baseadas em seus famosos passos e trejeitos), pula, gesticula, chama a atenção, agradece, sua, ofega, sorri, se emociona.
Sobre a polêmica
Qualquer pessoa em sã consciência que assista ao filme enxerga, mesmo sem ser verbalizado ou mostrado nos mínimos detalhes, que Michael Jackson estava, sim, doente. O filme só não escancara isso com as tintas sádicas que muitos procuram avidamente, como urubus em busca de sua amada carniça.
Não é preciso ser formado em medicina para sacar que MJ estava doente há muito tempo. Ele começou a adoecer quando, aos 11 anos, entrou para o grupo dos irmãos mais velhos, os Jackson 5, e foi ficando doente ao longo dos anos - um menino que não brinca, como qualquer criança da sua idade, e se interna em incansáveis ensaios sob o chicote paterno só tem um fim: a enfermidade (seja ela física, psicológica, de alma - a escolher).
Toda essa sua história de excessos e situações impróprias acabou culminando num homem com quase 51 anos que se apresentava magérrimo, desfigurado por mãos imensas, cabelo de boneca e um rosto cadavérico, sem cor, cheio de marcas e sulcos que em nada lembrava o lindo garoto negro de cabelo black power, que encantava os telespectadores ao se apresentar nos populares programas americanos de TV dos anos 60 e 70.
Só o que permaneceu na (quase) integridade foi sua voz. MJ, no fim da vida, era isso, só uma voz. Sua morte se anunciava a cada vez que saía de casa e era flagrado por paparazzi.
História da Carochinha
Pode até ser que os produtores forçassem a barra para que os 50 shows ¿em Londres - saíssem logo do papel e dos bastidores dos ensaios. Mas é ingênuo pensar que, por mais infantilizado que fosse, Michael Jackson se deixasse levar completamente pelos "homens maus" do capitalismo - uma das coisas que o filme deixa bem claro sobre Jackson (e não é difícil acreditar que existia) é o controle quase absoluto que ele fazia questão de imprimir em todas as etapas do show. Sua busca pela perfeição é revelada em vários trechos do longa.
Também é supostamente sabido que ele se afundava em dívidas e se agarrava no sucesso da turnê - que teve todo os ingressos vendidos - para tentar quitá-las ou recuperar seu crédito na praça. Supostamente sabido porque, como qualquer tópico sobre sua vida, sua situação financeira jamais será totalmente esclarecida ao público - até por ser este um assunto privado.
Legado esperado
À parte os interesses comerciais por trás do lançamento no cinema e em DVD, This Is It é um testamento musical - não definitivo, claro, muitos outros itens desse espólio com certeza surgirão -, que ele devia a seus fãs. A direção do filme preferiu celebrar o talento do genial Michael Jackson, do perfeccionista e incansável Michael Jackson, do amado por seus dançarinos e backing vocals Michael Jackson, em detrimento do fragilizado, triste, solitário, machucado, confuso, mal resolvido, bizarro e transgênico do pop Michael Jackson. Afinal, é essa a imagem que qualquer amante da música, independente de ser ou não fã de Michael Jackson, espera guardar de um gênio.
Os 112 minutos desse recheado patchwork de seus últimos momentos como artista - nos ensaios, clipes nostálgicos e bastidores da produção - revelam o que poucos falavam, alguns não acreditavam e muitos esperavam: que This Is It seria o maior show da terra. É uma pena que seu astro maior tenha deixado a ribalta antes da cortina subir. Realmente, é muito triste.
Por: Márcia Pereira, de São Paulo do site Terra